Presentamos cinco poemas del libro «um corpo negro» (São Paulo, 2018) de la poeta brasileña Lubi Prates, quien participó recientemente en el 1er Festival Internacional de Poesía de Uruguay 2018.
De un cuerpo negro
cómo llamar
patria
al lugar donde nací
ese útero geográfico
que me parió
cómo llamar
patria
al lugar donde nací
ya que parir es una
posibilidad sólo femenina y
patria es una imagem
masculina y país es una
imagen masculina, un
padre.
cómo no llamar
patria
a ese lugar donde nací
aunque sea el útero geográfico
que me parió, pero
me expulsó
madre no cabe en una patria.
para este país
para este país
traería
los documentos que hacen de mí una persona
los documentos que comprueban: existo
suena tonto, pero aquí
todavía no tengo esta certeza: existo.
para este país
traería
mi diploma los libros que leí
mi caja de fotografías
mis aparatos electrónicos
mis mejores bragas
para este país
traería
mi cuerpo.
para este país
traería
todas estas cosas
y más, pero
no me permitieron traer bolsas:
el espacio era demasiado pequeño
el barco podría hundirse
el avión podría estrellarse
con el peso que tiene mi vida.
para este país
traje
el color de mi piel
mi pelo rizado
mi lengua materna
mis comidas favoritas
en la memoria de mi lengua.
para este país
traje
mis Orishas
sobre la cabeza
todo mi árbol genealógico
antepasados y raíces.
para este país
traje todas estas cosas
y más:
nadie se ha dado cuenta
de cuánto pesa mi equipaje.
—
tú traes en la boca
todo el gusto del mar
y yo intento adivinar
en vano
cuántos océanos has cruzado
até aqui, até mim
qué océanos has cruzado
até aqui, até mim
para guardar en ti
tanta agua, tanta sal
en cada gota de saliva.
tú traes en la piel
todos los tonos de la tierra
y yo intento adivinar
en vano
cuántos continentes has recorrido
até aqui, até mim
qué continentes has recorrido
até aqui, até mim
para guardar en ti
tanto color y ese olor
que se acentúa cuando hay tormentas.
tú dices reconocer
el gusto del mar que traigo en la boca
los tonos de la tierra que traigo en la piel
entonces es fácil darse cuenta que
cruzamos recorrimos
los mismos océanos los mismos continentes
até aqui:
somos hijos de África
y todo lo que contamos a través de nuestros cuerpos
habla sobre nosotros, pero en la profundidad de la memoria
guarda nuestros ancestros.
condición: inmigrante
1.
desde que llegué
un perro me sigue
y
incluso si hay kilómetros
incluso si hay obstáculos
entre nosotros
siento su aliento cálido
en mi cuello.
desde que llegué
un perro me sigue
y
no me deja
frecuentar los lugares que están de moda
no me deja
utilizar un dialecto diferente del de aquí
guardé mis argots en el fondo de la maleta
él gruñe.
desde que llegué
un perro me sigue
y
a ese perro lo apodé
inmigración.
2.
un país que gruñe
una ciudad que gruñe
calles que gruñen:
como un perro salvaje
olvide la idea
infantil el recuerdo
infantil
de su mano acariciando un perro
de su mano acariciando
su propio perro
se quedó en otro país
irónicamente porque la rabia
no se controla allá
aquí, tampoco:
un país que gruñe
una ciudad que gruñe
calles que gruñen:
como un perro:
salvaje.
___
olvida el hilo fino frágil
lo que me detiene aquí
tiene el peso de un muerto
lo que me detiene aquí
me arrastra por los pies
rostro en el asfalto sangre
rostro en el asfalto kilómetros de
distancia navíos aviones coches
otro continente días en el trayecto
para ser para siempre del
lugar donde nací
soporta el peso de un muerto
sobre su cuerpo
si digo el lugar donde nací
son capaces de predecir
mi lengua materna se equivocan
la manera como digo determinada
palabra se equivocan
las comidas las músicas que me gustan
se equivocan se equivocan
se digo el lugar donde nací
son capaces de predecir
lo que no cabe
en el nombre de un país
entonces
qué distancia sería capaz de
rehacer vidas
desconstruir destinos obvios
lavar la sangre de mi rostro
hacerme extranjera
en el lugar donde nací
hacerme habitante
en todos los lugares donde
pasé.
De um corpo negro
como chamar de
pátria
o lugar onde nasci
esse útero geográfico
que me pariu
como chamar de
pátria
o lugar onde nasci
se parir é uma
possibilidade apenas feminina e
pátria traz essa imagem
masculina & país traz essa
imagem masculina & e o próprio
pai em si
como não chamar de
pátria
esse lugar onde nasci
embora ainda útero geográfico
que me pariu, mas
me expulsou:
mãe não cabe numa pátria.
para este país
para este país
eu traria
os documentos que me tornam gente
os documentos que comprovam: eu existo
parece bobagem, mas aqui
eu ainda não tenho esta certeza: existo.
para este país
eu traria
meu diploma os livros que eu li
minha caixa de fotografias
meus aparelhos eletrônicos
minhas melhores calcinhas
para este país
eu traria
meu corpo
para este país
eu traria todas essas coisas
& mais, mas
não me permitiram malas
: o espaço era pequeno demais
aquele navio poderia afundar
aquele avião poderia partir-se
com o peso que tem uma vida.
para este país
eu trouxe
a cor da minha pele
meu cabelo crespo
meu idioma materno
minhas comidas preferidas
na memória da minha língua
para este país
eu trouxe
meus orixás
sobre a minha cabeça
toda minha árvore genealógica
antepassados, as raízes
para este país
eu trouxe todas essas coisas
& mais:
ninguém notou,
mas minha bagagem pesa tanto.
—
você traz na boca
todo o gosto do mar
e eu tento adivinhar
inutilmente
quantos oceanos você atravessou
hasta aquí, hasta mi
quais oceanos você atravessou
hasta aquí, hasta mi
para guardar em si
tanta água, tanto sal
em cada gota de saliva.
você traz na pele
todos os tons da terra
e eu tento adivinhar
inutilmente
quantos continentes você percorreu
hasta aquí, hasta mi
quais continentes você percorreu
hasta aquí, hasta mi
para guardar em si
tanta cor & esse cheiro
que acentua quando tempestades.
você diz reconhecer
o gosto de mar que trago na boca
os tons de terra que trago na pele
fácil perceber então que
atravessamos percorremos
os mesmos oceanos os mesmos continentes
hasta aquí:
somos filhos da África
e tudo que contamos através dos nossos corpos
fala sobre nós, mas no profundo da memória
guarda nossos ancestrais.
condição: imigrante
1.
desde que cheguei
um cão me segue
&
mesmo que haja quilômetros
mesmo que haja obstáculos
entre nós
sinto seu hálito quente
no meu pescoço.
desde que cheguei
um cão me segue
&
não me deixa
frequentar os lugares badalados
não me deixa
usar um dialeto diferente do que há aqui
guardei minhas gírias no fundo da mala
ele rosna.
desde que cheguei
um cão me segue
&
esse cão, eu apelidei de
imigração.
2.
um país que te rosna
uma cidade que te rosna
ruas que te rosnam:
como um cão selvagem
esqueça aquela ideia
infantil aquela lembrança
infantil
de sua mão afagando um cão
de sua mão afagando
seu próprio cão
ficou em outro país
ironicamente, porque a raiva lá
não é controlada
aqui, tampouco:
um país que te rosna
uma cidade que te rosna
ruas que te rosnam:
como um cão:
selvagem.
—
esqueça a linha fina frágil
o que me prende aqui
tem o peso de um morto
o que me prende aqui
me arrasta pelos pés
rosto no asfalto sangue
rosto no asfalto quilômetros de
distâncias navios aviões carros
outro continente dias de percurso
para ser para sempre do
lugar onde nasci
suporte o peso de um morto
sobre o seu corpo
se digo o lugar onde nasci
são capazes de prever
minha língua erram
a forma como digo determinada
palavra erram
as comidas as músicas que eu curto
erram erram
se digo o lugar onde nasci
são capazes de prever
o que não cabe
no nome de um país
então
qual lonjura seria capaz de
refazer vidas
desconstruir destinos óbvios
lavar o sangue do meu rosto
me fazer estrangeira no
lugar onde nasci
me tornar moradora em
todos os lugares por onde
passei.

Lubi Prates (1986, São Paulo, Brasil) es poeta, editora y traductora. Publicó tres libros: coração na boca (2012), triz (2016) y um corpo negro, que recibió una beca del Gobierno de São Paulo para su publicación y diversas participaciones en antologías y revistas nacionales e internacionales. Es socia fundadora y editora de nosotros, editorial, y es editora de la revista literaria Parênteses.
Lubi Prates (1986, São Paulo, Brasil) é poeta, editora e tradutora. Tem três livros publicados, coração na boca (2012), triz (2016) y um corpo negro (2018), que foi contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia. É sócia-fundadora e editora da nosotros, editorial, e é editora da revista literária Parênteses.